terça-feira, 18 de janeiro de 2011

A princesa baixinha



Era uma vez uma princesa muito baixinha e todos faziam troça dela. Sempre que ia passear as outras crianças troçavam: “ - É tão pequenina!”.
Os jardineiros, esses, diziam que ela mais parecia um bonsai, que é uma daquelas árvores em miniatura.
E ainda havia outros, mais maliciosos, que sussurravam:
“- É baixinha demais para ser uma verdadeira Princesa. As princesas a sério têm que ser altas e elegantes”.
Claro diziam tudo em voz baixa para ninguém ouvir. Mas ela ouviu-os na mesma e ficava triste.
Um dia a Princesa Catarina – pois era este o seu nome – foi visitar a rainha Avó, que além de ser rainha e avó, era também uma grande amiga.
Enroscou-se no seu colo e perguntou-lhe:
"- Por que é que eu sou tão baixinha? Por que é que todos fazem troça de mim?”
E a rainha Avó respondeu: “ - É porque eles não percebem nada de nada. O teu avô também era baixinho e fez coisas muito importantes”.
“ - Que coisas?” - perguntou ela. “ - Combateu contra os inimigos e por isso é que hoje vivemos em paz”.
“ - Então também quero fazer coisas importantes”, decidiu a Princesa. A Rainha Avó achou muito bem e preparou-lhe logo uma trouxa com coisas de que ela ia precisar para fazer uma viagem: um arco e uma flecha, uma moeda de ouro, um pente,  um espelho e três caramelos.
Ajeitou a coroa na cabeça da Princesinha, deu-lhe um beijo…

Depois atravessou três bosques, duas montanhas e um deserto, chegou a uma aldeia que vivia atormentada pelo dragão.
Os habitantes passavam a vida trancados em casa, cheiinhos de medo. Mas a Princesa não tinha medo dele, nem um só bocadinho!
“ - Tenho uma arma para derrotar o dragão. Vejam” -  disse orgulhosa ao chefe da aldeia mostrando-lhe o arco e a flecha.
Só que aquilo pareciam armas de brincar…
“ - São tão pequenos!” - respondeu o chefe, desconsolado.
“ - Isto é o que vocês pensam” - disse a Princesa convencida.
Subiu ao monte,  as pessoas a observavam e murmuravam: “ - Ela é tão pequenina, não vai conseguir”.
Pegou no arco e na flecha e acertou na barriga dele “ - Ai ui! Isso dói!” -  berrou o dragão. Então a princesa aproximou-se dele e ameaçou: “ - Esta flecha é pequena e por isso a tua dor é pequenina, mas se continuares a maltratar os meus amigos eu volto com uma muito maior!” O dragão fugiu. E os habitantes da aldeia gritaram em coro!” “ - Ah! Grande Princesa!”.
Toda satisfeita com a sua proeza, Catarina retomou viagem. Andou, e depois de atravessar mais três bosques, duas montanhas e um deserto, chegou a outra aldeia. Como tinha fome decidiu comprar um biscoito com a moeda de ouro mas ninguém tinha nada para comer. Até havia um padeiro mas ele não tinha farinha para fazer o pão.
“ - Bom, na verdade, até há muita farinha”-  confessou o padeiro com voz triste, enquanto apontava para um monte de sacas muito bem atadas com fitas de seda.
“ - Ninguém consegue abri-las. Um bruxo lançou-lhes um feitiço e agora é impossível desatar os nós”.
“ - Talvez estejam muito apertados para as vossas mãos, mas para as minhas não” - respondeu a Princesa triunfante.
Trouxeram as sacas de farinha e, com os seus dedos pequeninos, Catarina desatou todos os nós. Agora o padeiro já podia fazer pão para toda a aldeia e claro, um grande biscoito para a Princesa que logo retribuiu com a moeda de ouro. Já de barriga cheia, os aldeões gritaram em peso: “ - Oh, grande Princesa, deste de comer à aldeia inteira!”.
Toda inchada com a sua nova proeza, Catarina meteu pés ao caminho. Andou, andou e depois de atravessar três bosques, duas montanhas e um deserto, chegou a outra aldeia ameaçada por um bando de Condores.
Todos os dias, às três da tarde, voavam até à aldeia e devoravam tudo o que encontravam.  - Ninguém se atreve a ir expulsá-los lá da montanha” - contaram-lhes os habitantes.
“ - Vou eu!”, decidiu a Princesa.
 “ - Mas com esse teu tamanhinho, como é que julgas que enfrentar os condores?”, duvidaram eles.
Sem lhes prestar atenção, Catarina partiu para a montanha.
Mas enquanto trepava pelas pedras
Ia pensando, insegura:
« - Ai, Ai, Ai! O que é que eu faço agora?».
Ao chegar ao topo da montanha e ao encarar os condores, achou-os tão feios, mas tão feios mesmo, que teve logo uma ideia. Tirou do saco o espelho que tinha trazido e aproximou-se do chefe dos condores, o mais feio de todos. Curioso, o condor esticou o pescoço para ver o que a Princesa tinha na mão. Então olhou para a sua imagem reflectida no espelho e, ao ver como era feioso, ficou tão assustado que desatou a voar. E os outros aceleraram atrás dele, jurando nunca mais voltar. A princesa ainda gozou: “ - Até metes medo a ti próprio, não é?”.
Lá em baixo, na planície, ao verem os condores voar para longe, todos gritaram ao mesmo tempo
 « - Ah, Grande Princesa!».
Mas, sozinha no topo da montanha, tão pequenina e com aquele mundo tão grande a seus pés, a Princesa sentiu-se um pouco perdida.
Foi então que se lembrou dos caramelos que a Rainha Avó lhe tinha dado. Abriu o seu saco, tirou de lá um e comeu-o tirou o segundo o terceiro e enquanto chupava o último caramelo, com o mundo tão vasto a seus pés, começou a sentir-se melhor.
Ajeitou a coroa na cabeça e voltou a partir. Desta vez… para casa.
Ah, grande Princesa, que viva a nossa Princesa”.
De novo atravessou três desertos, seis montanhas e nove bosques. E enquanto passava pelas aldeias que ajudara na sua viagem, não parava de ouvir:
Ah, Grande Princesa! Que viva a nossa Princesa!”.
As felicitações viajavam no vento e depressa chegaram à corte da Rainha Avó.
Quando a Princesa entrou no castelo, foi recebida com gritos de alegria:
Viva a Grande Princesinha!”.
É mais valente do que 100 cavaleiros!”.
A uma das janelas do seu castelo, a Rainha Avó acenou-lhe, comovida.
É ainda mais corajosa do que o avô”, pensou para si própria. “Porque ir à guerra há muitos que têm de ir, mas ser grande e pequenina ao mesmo tempo, é coisa mais complicada de conseguir.

Escrito por Miguel Silva

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